Na  Quaresma, tempo  de  mesa farta e comidas deliciosas é mais que previsível  o duelo  entre a gula e o jejum, frente à tradição e tentações dos sabores: caruru, vatapá, arroz branco, feijão-fradinho, frigideira de bacalhau, moqueca de peixe…

Comer sem medo de ser feliz  exige reflexão, assim adverte o frei: “Ouça o próprio corpo, coma e beba moderadamente, e o corpo e o espírito agradecerão”, “impuro não é o que entra pela boca do homem, mas o que sai do seu coração”, reafirmando o Novo Testamento que diz: “nem  só  de  pão  vive  o  homem”.

Nessa linha ou direção,  vale  antecipar, ler e reler os conselhos de Frei Beto escritos  em  “ Comer como um Frade – Divinas Receitas Para Quem Sabe Por Que Temos Um Céu Na Boca.” O  livro revela o lado fogão do autor, um frade  dominicano adepto da Teologia da Libertação,  jornalista, antropólogo, escritor, filósofo, e  também  cozinheiro,  no qual demonstra  saber como poucos a apreciar um bom vinho, uma  comida bem feita, além de estimular  o  paladar  dos   leitores  com  suas  divinas  receitas.

O receituário é simples e divertido, a começar pelos  nomes  de batismo das receitas , registradas com identidades e passaportes celestiais: Canapés Pascais, Caruru à São Sebastião, Truta à Santa Matilde, Feijão Angelical,  Mousse de Fruta ao Arcanjo Gabriel, Sopa Dominicana, Empadão São Clemente, Peixe à São Pellegrino, Fusilli à Corpus Christi,  Peixe assado à Sábado de Aleluia,  Pão de Queijo Maria Madalena.

São comes e bebes, mesclados com ingredientes e citações bíblicas, que ensinam a apreciar o que a natureza nos oferece  com dicas e conselhos  de bem viver:

“Acostume-se a mastigar lenta e demoradamente. A saliva é a usina que tritura o alimento. Caso contrário, o estômago se verá forçado a fazer um trabalho que a boca se omitiu.

À mesa, aposte consigo mesmo que você será o último a terminar o prato.

Abstenha-se periodicamente daqueles alimentos que você mais gosta. E seu espírito agradecerá.

O sono saudável depende do estômago moderado: a pessoa se levanta cedo e com boa disposição. A gula é sempre acompanhada por mal-estar, insônia, naúsea  e cólica.”

Para celebrar a Páscoa é de boa escolha compartilhar  a receita de  um bolo bem simples e bem apropriado para a atual conjuntura, o “Bolo Cremoso da Pastoral Operária”. É muito fácil de fazer. Basta misturar, num liqüidificador, duas xícaras de chá de leite, três ovos, uma xícara de chá de fubá, duas de açúcar, uma colher de sopa de fermento em pó e 50g de queijo parmesão ralado. Bata bem e derrame numa forma de bolo untada. Leve ao forno quente. Deixe esfriar e retire da forma.

Dica: Acrescente-se   aos ingredientes  o propósito de alimentar a utopia, de  lutar  por um mundo de justiça, paz, amor e fraternidade.Renda graças ao Senhor e pode comer rezando ou militando.

Bom apetite e Feliz Páscoa!

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