Escrever é sambar com os nossos próprios medos, sejam eles aliados ou lobos.Coreografia que aguça o olhar e desafia os sentidos na passarela do espanto. Eis o assombro: cantar e dançar com as mãos, ensaiar quantas vezes for preciso, refazer, limpar, cortar, deletar…Uma palavra aqui, outra acolá, abrindo-se em leques, formas e possibilidades.

Nessas idas e vindas, leituras e interrogações:  O que dizer desse Carnaval que reuniu tantas alegrias e tristezas numa festa só? As palavras pulam na contra mão. Arredias, escapam da muvuca e rejeitam óbvias e tradicionais explicações. À caça de verdadeiros significados, esbarram no sentido político inerente à própria folia. E nesse abre alas, as estruturas de poder desfilam na avenida, no comando da sátira que rege a bateria, na cadência de um samba-enredo que dialoga com as nossas mazelas, erros e acertos.

Mascarados, rimos de nós mesmos. Somos pierrôs, colombinas, heróis e vilões, perdidos na multidão  dos sem ninguém.A alegria é fato, catarse coletiva movida pela fantasia de uma sonhada e humanizada convivência. Ao som de refrões das marchinhas a carnavalização do país acontece, com violência, protestos, galhofas, assaltos, enxentes, humor e mortes.

Em blocos, palavras, palavrinhas e palavrões… Algumas narcisistas, preocupadas com alegorias e adereços são atropeladas pelos hiatos das contradições. Outras, dispersas e perdidas  na pipoca correm atrás do  trio elétrico. As  apressadas e comedidas reúnem-se no ponto final,  rezam e se mortificam  nas cinzas da própria ressaca moral.

Share This