O luto desordena palavras, métricas, sílabas, emoções… Escrever o novo em uma história antiga é nadar sem rumo, é mergulhar à procura de sentidos e porquês. A saudade pode estacionar em qualquer lugar: livros, fotografias, músicas, filmes, objetos, em tudo que possa aferir a dor da ausência onipresente. Nada é trivial no vazio da página, da casa, da alma, apenas o nado, o choro do aprender.

O cotidiano solicita mudanças de toda ordem: documentos, provas de vida, certidões,cancelamentos, atestados. A todos instante, palavras em rotação: algumas mudam de classe, outras de lugar tentando adaptar-se aos tempos verbais. Entre o pretérito e o futuro a vida ordena conjugar o presente das emoções: eu choro, eu rio, eu lembro, eu agradeço, eu luto…

Como bem disse Mia Couto:” A gente vai chegando à morte como um rio que desencorpa no mar: uma parte está nascendo e, simultânea, a outra já se assombra no sem-fim.”

É esse assombro que encoraja o medo a seguir em frente, a escrever o novo da correnteza. Em doses homeopáticas, palavras andantes, mutantes, garimpam nas margens centelhas de esperança, desenham memórias na linha do horizonte.



					
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