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Janela sobre a memória (ll)

Um refúgio?

Uma barriga?

Um abrigo para se esconder quando estiver se afogando na chuva,

ou sendo quebrado pelo frio, ou sendo revirado pelo vento?

Temos um esplêndido passado pela frente?

Para os navegantes com vontade de vento, a memória é um porto de partida.

Eduardo Galeano (1994)

Aqui, entre cidades e margens, uma possibilidade de encontro e diálogo  sobre o curso da memória e das tecnologias. Como estratégia,(ou alerta) é fundamental  uma  referência de Walter Benjamin: Quem pretende se aproximar do próprio passado soterrado deve agir como um homem que escava. Antes de tudo, não deve temer voltar sempre ao mesmo fato, espalhá-lo como se espalha a terra, revolvê-lo como se revolve o solo. Pois “fatos” nada são além de camadas que apenas à exploração mais cuidadosa entregam aquilo que recompensa a escavação. (Benjamin, 1995, p. 239). Ao revolver “os fatos” , é natural  o diálogo entre Memória e Tecnologia, com  o entrelaçamento de imagens e de narrativas procurando entender que,  o passado, o presente e o futuro se entrecruzam e que não é possível retomar o fio da história sem compreender que ela também está se dando neste instante, no aqui e agora. É preciso seguir o curso do próprio rio, explorar  suas margens e afluentes, possibilitar o alargamento de sua correnteza explorando outras  vertentes. Nessa perspectiva, as Oficinas de Memória  abordam temas que vão ao encontro e escuta da palavra dita, da palavra escrita e da grafia do olhar nesse universo das tecnologias, com intervenções poéticas, exposições, lançamentos de livros e revistas, recitais e espetáculos. Cenário, onde por vias tortas e confusas,  nos deparamos com os  questionamentos sobre o lugar natural da memória humana confinada em  arquivos artificiais e  armazenamento de dados no mundo digital. Como fica essa memória que se perdeu  da experiência vivida? E o testemunho daquela  que escapa desses  arquivos? Se somos marcados pela paixão de lembrar, só a literatura nos salva, pois ela é o lugar onde se recria a memória, a vida. Tudo pode ser guardado na Rede, mas não a experiência individual de quem escreve e lê, o esforço e o gesto de recriar-se. Memória e Literatura juntas, ainda é o lugar  onde  a alma humana não pode ser arquivada. Entre Margens, o diálogo dessas tecnologias com a cultura histórica e o nosso posicionamento como intérpretes do mundo e do tempo em que vivemos, redefinem novos conceitos de tempo e espaço, introduzem mudanças nos mais diferentes campos de atuação, percepção e construção da memória do homem contemporâneo.
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