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“O Encontro Marcado” de Fernando Sabino, sempre foi companhia em diversas fases da minha vida. Aluna adolescente, decorava frases do livro e copiava nos cadernos de recordações, convicta de que tinha respostas para todas as dúvidas e certezas existenciais. Mais tarde, mergulhada em análises e interpretações, era a vez da professora questionar: O que pode a literatura dizer dos dilemas da vida? Dentre alternativas e respostas, apreendi lições de como manter as amizades vida afora, e das muitas releituras guardei: as quedas, os passos, a procura, a vontade de escrever…

Coincidências ou não, quando o grupo GERAÇÃO ANOS DOURADOS iniciou a largada de fotos no Facebook, com resenhas históricas multiplicadas em comentários e compartilhamentos, o livro tantas vezes lido e relido ressuscitou. Juntos, os elementos que nos uniam foram ficando cada vez mais evidentes: a escola, os professores, a praça, o clube, os assustados, os desfiles, as fotos sinalizando os ausentes, a nossa finitude na marcha do tempo, das incertezas e reticências…

Novo o contexto, novas as inquietações. O que é um (re)encontro? Que destino daremos às nossas recordações agora acessadas tecnologicamente? As indagações querem traduzir o diálogo entre o passado e o presente, saudades e lembranças. Uma temporalidade em movimento na qual temos um ENCONTRO MARCADO. No clima de euforia que antecede o evento, personagens revisitam a memória, retornam frases tantas vezes repetidas em convites de formatura e pensamentos repletos de enfáticas conclusões sobre a vida:

“Existem palavras essenciais: amor, infância, pureza, espaço, tempo. Com elas eu escreveria um romance, cem romances. O amor como atitude estética diante da vida, realização da pureza no espaço e da infância no tempo. Tudo mais é literatura”.(pag…163)

“Feliz daquele que, ao meio-dia, se percebe em plena treva, pobre e nu. Este é o preço do encontro, do possível encontro com o outro. A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece o seu nome.” (De uma carta de Hélio Pelegrino)

“Está tudo esgotado. Ou se faz alguma coisa de verdadeiramente novo, ou é melhor esperar os tempos novos. Alguma coisa nova se anuncia, eu vejo, eu sei, eu juro que alguma coisa nova está para surgir para nós e para o mundo — se eu estiver enganado, então o melhor é mesmo comer, beber e dormir, porque nem morrer será preciso. Estou na expectativa — descrente das fórmulas gastas, esgotadas. Tenho sentido muita falta de vocês.”

“Sei apenas que estou vivo. Nada mais sei. De tudo ficaram três coisas: a certeza de que estamos sempre começando, a certeza de que é preciso continuar e a certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar.Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.”(pag…143)

De “romance de uma geração” para o romance de todas as gerações, o livro é retrato, caçada, percurso, estrada, espelho. E a cada releitura ou reencontro, resta-nos usar do artifício de Eduardo Marciano e perguntar: O que se pode acrescentar ao determinismo das certezas ou à lógica aritmética dos anos? Nada. Salvo essa emoção que sobrevive ansiosa para dizer: Que bom, você veio!

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