“A literatura é a maior realidade virtual.
É vida em pó. Como os sucos. Basta adicionar água
e volta a ter vida.” Alberto Fuguet.

Carmen da Silva entrou na  minha vida sem  pedir licença, apenas com a sua “A Arte de Ser Mulher,” uma  seção da  revista Claudia, para qual ela escreveu durante algumas décadas. Leitora assídua, colecionava  os recortes da revista  contendo os polêmicos e preciosos textos sobre o universo feminino: avanços, conquistas,  medos,  a própria  luta.

Guardava-os  como uma espécie de guia para a busca das minhas ( e também  nossas) verdades.
Mexendo em  caixas entulhadas de  lembranças,  deparei-me com Carmem e  comigo mesma, textos que  escrevi em diferentes épocas, mas  articulados pela mesma essência: o exemplo de que é possível ser protagonista, assumir o leme “nessa aventura apaixonante e singular: nossa própria vida.”
Sempre que visito o meu avesso, passado, atravesso  pontes  e palavras…Em Cartaz, um poema  apresentado numa  exposição promovida pela extinta Fundação Cultural de Petrolina, no prédio da  antiga Estação Ferroviária ( in memorian), em comemoração ao Dia Internacional da Mulher.
Eu, hein…que susto! Ainda cabe  vida  no poema?

EM CARTAZ
Na performance
de um grande clandestino
ele (o tempo)
contracena rugas
sonhos e perplexidades…
Na coxia
o ensaio de um novo script
meridianos alteram a rotação dos desejos
colonizam o hemisfério dos medos.
Em metamorfose
displasias e hormônios
disputam limites
demarcam pausas
mapeiam enredos e desenredos
na geografia do corpo.
Contrapondo-se
ela ( a mulher )
desmonta cenários
rasga os véus
despe janelas
abre horizontes
protagoniza ( a vida )
e rouba da cena
o clímax.

(  Petrolina,08/03/96 )

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