Quando compartilhei essa foto no Facebook lembrei-me da comemoração dos 40 anos da turma de Magistério,1968 do Colégio N.S.Auxiliadora. Memória armazenada é assim, basta um estímulo que ela brota espontaneamente.
A foto reacendeu lições ensinadas por Irmã Adelita, quando analisávamos canções de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque de Holanda, buscando compreender nas suas entrelinhas o véu negro da ditadura. Ah!.. e as aulas de Irmã Margarida Falcão, que nem sempre atendia ao toque de recolhimento e ficava horas a fio na biblioteca do colégio, uma espécie de sacrário particular, lugar ideal para suas orações e para aquietar as angústias daquele nebuloso momento. Com as revistas O Cruzeiro e Manchete ela atualizava os livros de história em tempo recorde. Eram ensinamentos que despertavam o nosso inconformismo acrescidos de crença nas possibilidades de mudanças.
Aulas comemoradas 40 anos depois, com direito a (re)fazer um novo censo. Quem e quantas somos hoje? Cadastrar telefones, endereços, e-mails, sem falar no nosso caderninho de recordações que ganhou capa novíssima de agenda eletrônica.
Como nada foi por acaso, fizemos a festa, vivemos a festa em plenitude e esperanças.
Reencontrar memórias é recuperar lições que sabemos de cor,
apreendidas em fatos históricos,
movimentos artísticos,
em comportamentos e modelos educacionais.
Passamos a vista e logo nos deparamos com os fantasmas e medos
que torturaram toda uma geração
a força do calar a boca,
da censura, da opressão…
É preciso estar atento e forte, alertava a canção.
Entre ídolos, mitos e preconceitos rompemos paradigmas,
subvertemos a ordem do estabelecido
na música,
na literatura,
na moda
e nos padrões sociais.
Entre o novo e o velho,
o sim e o não,
uma angústia barroca pairava no ar
em forma de brado: é proibido proibir!
Ser hippie,
pendurar um poster de Che Guevara na parede,
redescobrir a natureza,
erguer uma bandeira,
Alegria Alegria
Eu vou porque não ? Porque não?
Era esse o refrão da canção.
Quarenta anos depois…desembrulhamos dos papéis de seda lembranças guardadas,
como se o hiato espaço/tempo nunca tivesse existido
e o dia de hoje fosse apenas o dia seguinte ao passado,
onde tudo é conhecido, reconhecido,
tornado nosso por anos de convívio.
Lembranças também embaladas por outras canções,
por mãos que ofereceram rosas
e nos ensinaram lições de generosidade.
Delas, guardamos o perfume.