Sou da geração Baby Boomers. Sempre gostei de reuniões presenciais com amigos, de um bom café e de conversas que fluíam entre risos e reflexões. Era nesses momentos que, quase sem perceber, surgia o impulso natural para escrever—ou aterrissar em uma crônica.

Mas os tempos mudaram, e precisei me adaptar. Vieram as mensagens instantâneas, as redes sociais e novas formas de expressão: blogs literários, poesia visual, hipertexto, booktok... A interação online tem outro ritmo, impõe novos códigos de comportamento, é mais democrática e permite a inclusão de múltiplas vozes e perspectivas.

Foi nesse cenário que uma curiosidade nasceu: como leitores das gerações Millennials e Z receberiam textos escritos em antigos diários, cartas e cadernos de recordações?

Decidi me aventurar nessa espécie de vitrine de achados e perdidos, compartilhando e reescrevendo fragmentos de um passado que parecia tão distante. Eis um exemplo:
> "Pátio, praça, salas de aula—esses eram os cenários onde o mundo desfilava diante de nossos olhos, através das páginas da Manchete e d’O Cruzeiro, dos jornais O Pharol e O Sertão, das aulas de História da Irmã Margarida Falcão e das canções que a censura insistia em calar.
Mesmo sem compreender a fundo um planeta dividido em blocos ou a lógica da Guerra Fria, sentíamos algo em comum quando ouvíamos os versos:
‘Era um garoto que como eu
Amava os Beatles e os Rolling Stones
Girava o mundo, mas acabou
Fazendo a guerra no Vietnã...’
A música nos ajudava a decifrar o momento histórico em que vivíamos, assim como a literatura nos ensinava a enxergar além: Machado de Assis, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz... tudo isso ganhava vida nas saudosas aulas da Irmã Adelita."

Para minha surpresa, essa troca gerou algo valioso. Descobri que a literatura continua atemporal: aproxima gerações, cruza fronteiras e abre portas para novas visões de mundo. Apesar das diferenças, cada época carrega seus desafios e oportunidades, e todas contribuem, à sua maneira, para a evolução da sociedade. O diálogo, afinal, segue possível—e mais necessário do que nunca.


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