Tem dias assim, observando mais do que expressando-me com palavras. Dias de silêncio. Aí, não tem como não atropelar nas questões existenciais, nas contradições que nos definem como seres humanos e no olhar crítico que tanto tememos. Em jejum, preciso de uma metáfora para dar conta de todo esse caos exterior. Aqui, uma procissão de impostos, de corruptos, de injustiçados, de opressores e oprimidos… Ali, uma Babel tresloucada, servida cotidianamente pelos jornais e redes sociais. Óbvia é a minha angústia interior procurando encontrar a palavra sonhada, essência sentida, livre de delações e sentenças.

Nesse tempo quaresmal, período de verdades divinas, tempo de escuta, de silenciar o coração, não é de se estranhar que existam almas que se debatem entre o inferno moral da modernidade e as suas aspirações pessoais mais íntegras. Um clima de inquietações traduzido filosoficamente por T. S. Eliot, no seu longo poema “Quarta-feira de Cinzas” (1930), sobre o desconcerto do mundo e a busca de transcendência, uma  meditação sobre os seus mistérios, a sua conversão e redenção.

“Se a palavra perdida se perdeu, se a palavra usada se gastou
Se a palavra inaudita e inexpressa
Inexpressa e inaudita permanece, então
Inexpressa a palavra ainda perdura, o inaudito Verbo,
O Verbo sem palavra, o Verbo
Nas entranhas do mundo e ao mundo oferto;
E a luz nas trevas fulgurou
E contra o Verbo o mundo inquieto ainda arremete
Rodopiando em torno do silente Verbo.”

Lendo e relendo o poema, sempre descubro significados que reiteram a minha procura.”Se o Verbo é silêncio e está oculto, somente aquele que conhece esse Nada real não evita a sua face e o afirma e se une a Ele em êxtase, esquecimento e júbilo”. Paradoxalmente a Palavra revive, humanizada e com o livre arbítrio para redesenhar escolhas pessoais e coletivas. Contínuo, portanto, é o exercício para atribuir sentidos à nossa jornada, aceitar o desafio de revitalizar o caminho de Fé e Esperança que nos conduz à Páscoa.

As quaresmeiras florindo ruas e jardins anunciam que já estão fazendo a sua parte.

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