No dia 21 de maio de 1995, às 21:00h a Orquestra Sinfônica da Cidade de São Paulo fez uma inesquecível apresentação na Orla Fluvial de Petrolina, às margens do rio São Francisco. A vinda da Camerata Atheneum para o Nordeste foi inédita, primeira vez que um Corpo Estável da Secretaria Municipal de Cultura apresentou-se fora do seu Município.

O intercâmbio cultural resultante do esforço e batalha feito entre as Secretárias de Culturas das duas cidades constituiu-se numa verdadeira prova de fogo para os idealizadores, técnicos e parceiros.

A Camerata Atheneum foi regida pelo maestro Lucian Rogulski com a participação dos solistas Marta Baschi e José Gutierrez. O repertório de notáveis clássicos não foi maior que o sublime momento da execução do  Hino do Centenário, da autoria de Maurício Dias Cordeiro, e a interpretação de Ciúme de Caetano Veloso.

Na abertura oficial do Concerto, uma homenagem  orquestrada em versos foi feita pelo poeta Carlos Laerte, assessor de imprensa da Fundação Cultural na época.

PETROLINA
Na regência das águas, cem anos passadas,
o concerto da vida nordestinamente orquestrado.
Primeiro, os violinos despertavam os Caboclos D’água,
junto aos currais, ouviam-se harpas
– seres encantados de um outro tempo-
Na grande Pedra, que todos achavam Linda,
um solo, voz de mulher.
Era a Mãe D’água!
Exclamavam convictos cornetas e clarins.
“Não importa sangre o peito”,
ouviram açucenas
dos murmúrios de um velho remeiro.
Das águas cem anos passadas, evoluíram
violoncelos,
eles molharam a terra
e das notas concebidas
nasceram os frutos.
Contam que na Pedra do Bode tem um pé de sax, nascido
quando ainda amanhecia a cidade.
Dizem que lá de cima avista-se até o “Pharol”
e as casas feitas de valsas, óperas e hinos,
argamassa de um trabalho santificado.
Alguns homens de versos nos olhos e trombones nas
mãos,anunciavam no coreto da praça a alvorada
“Setembrina”, e os peixes vieram das ilhas com suas
flautas em duetos de amor sem fim,
despertavam as crianças
em acordes, entre a Concha e a Catedral.
Na regência das águas deste concerto Centenário,
um “Jesus Sertanejo”.
Nas “Inclinações Musicais”
destas Carrancas de olhos vazados,
muitas águas passaram,
instrumentos da luz de ontem,
águas que de novo correm bem aventuradas
e agora orquestradas,
de anjos e serafins.

Para os que vivenciaram esse momento vale repetir o mantra:  Louvadas as músicas que embalam a nossa memória!

Para a nova geração é recomendável seguir a rota  traçada por Eduardo Galeano em seu Palavras Andantes: “Temos um esplêndido passado pela frente? Para os navegantes com desejo de vento, a memória é um porto de partida.”

 

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