O advento começava em nossa casa bem antes do primeiro domingo do calendário litúrgico, iniciava com a descida de todas as caixas do alto do armário, desembrulhando imagens, guirlandas e enfeites, abrindo espaço na sala de visitas para a árvore de Natal e o Presépio, num ritual que se repetia ano a ano.

Novidades  eram os presépios criados por meu pai, ele sempre mantinha o compromisso de surpreender e mimar o Menino Jesus (o dono da festa), como assim o chamava. Da criação do projeto à montagem, tudo era feito e executado com a seriedade que a ocasião exigia. Não adiantava minha mãe reclamar do tempo, nem dos gastos, pois a resposta vinha prontamente: nada de pitacos, nem palpites, trate logo de dar sua contribuição. Uma regra  também estabelecida para todos os membros da família: noras, genros, filhos, netos, bisnetos e agregados, o dever de participar da superprodução natalina. Além do presépio, uma outra força tarefa era dividida em setores: a montagem da árvore, a iluminação do jardim, a compra  de cartões, de novos enfeites e de lembrancinhas, as doações,  a seleção dos cânticos para a novena, os recortes de textos que iam sendo guardados durante o ano para leitura e reflexão, além dos ensaios do coral  composto pelos netos.

O convite também era feito aos amigos e vizinhos para a festa do aniversário de Jesus, o verdadeiro e único motivo para a comemoração, sempre  acompanhado de recomendações e  recheado de propósitos solidários e fraternais.

“O Presépio nos convida a despojar o ódio e rancores, a reconhecer no sorriso terno e acolhedor do Menino do presépio os rostos tristes ou alegres de todos os meninos do mundo; a reconhecer todos os homens como iguais: ricos e pobres, doutores e ignorantes, cristãos e pagãos, pastores e magos porque para todos nasceu o Menino. Deus convidou a todos ao presépio: a Herodes, aos sacerdotes, aos escribas e aos fariseus, mas somente os pastores e os Magos foram até ele. Hoje nos segue convidando para dobrar os joelhos diante do presépio; mas esse presépio estará morto se não reconhecermos o Menino nos milhões de rostos humanos que nos rodeiam.” (Fonte: amigosdopresepio).

Depois de tantos anos repetindo a tradição (mesmo sem a presença dele ) posso reconhecer e identificar no  minúsculo presépio montado em minha casa, o real significado desta data.São emoções que  se desembrulham, luzinhas acesas em sentimentos,  memória enternecida e grata pela chance de poder compartilhar com amigos e leitores o meu conceito de Natal.

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